23 de junho de 2008

Petição para a manutenção da linha do Tua entregue no Parlamento


O Movimento Cívico pela Linha do Tua (MCLT) entregou no Parlamento uma petição com mais de cinco mil assinaturas defendendo que o último troço de caminho-de-ferro do Nordeste Transmontano é mais valioso do que uma nova barragem. O MCLT entende que "o contributo energético da barragem será reduzido" e que "não justifica sacrificar a linha e o vale do rio Tua".

Em mais um tentativa de impedir o "afogamento" desta via e em pouco mais de três meses, este movimento de cidadãos reuniu, na Internet, as cinco mil assinaturas necessárias para obrigar a Assembleia da República a discutir uma petição em defesa da linha do Tua, divulgaram hoje os responsáveis.

A petição, que continua acessível em “www.linhadotua.pt”, foi entregue quarta-feira no Parlamento, que marcará a discussão em plenário de acordo com a disponibilidade e oportunidade de agenda.

O movimento tornou-se conhecido depois do acidente de Fevereiro de 2007, em que morreram três pessoas, o primeiro fatal na linha com 120 anos, a que se seguiram recentemente mais dois sem vítimas mortais.

Estes acidentes têm causado "estranheza", principalmente os últimos, por ocorrerem depois de feitas intervenções para a melhoria das condições de segurança.

Enquanto os dois primeiros foram alegadamente causados por aluimento de terras e pedras, continuam por desvendar as causas do último, a 06 de Junho, em que uma carruagem descarrilou e tombou sobre a berma da encosta, provocando dois feridos ligeiros, não havendo aparentemente, segundo os responsáveis, "nada na infra-estrutura ou na carruagem que possa ter originado o acidente", que continua a ser alvo de um inquérito.

O MCLT tem reclamado melhores condições nos cerca de 60 quilómetros de via férrea que restam nesta região e contestado a construção da barragem de Foz Tua, que, independentemente da cota, vai afundar os últimos quilómetros da linha do Tua e cortar a ligação ferroviária do Nordeste Transmontano ao restante caminho de ferro nacional, nomeadamente à Linha do Douro.

Para os defensores da linha, este será também o fim da ferrovia na região, o que consideram "criminoso e um atentado", expresso em citações de diferentes autorias, inclusive do ex-presidente da República Mário Soares, que acompanham a petição entregue na Assembleia da República.

Os promotores do movimento alegam que "a promessa de desenvolvimento em torno da barragem é falsa, pois se uma barragem trouxesse desenvolvimento, Trás-os-Montes e Alto Douro seria neste momento a região mais desenvolvida do país, com mais de metade da produção de energia hidroeléctrica aqui sedeada".

"O interesse nacional desta barragem choca brutalmente contra os direitos da região trasmontana pois, entre outros impactos, vem desfigurar parte de uma região Património da Humanidade, o Douro Vinhateiro, e amputar mais uma vez a Linha do Tua, deixando-a sem ligação à restante rede ferroviária nacional, e deixando o distrito de Bragança ainda mais desfalcado de vias de comunicação", defende em comunicado.

Para o MCLT, a promessa de alternativas, já anunciadas pela EDP, " é irreal e enganosa", lembrando o que aconteceu aquando da desactivação dos 80 quilómetros da Linha do Tua entre Bragança e Mirandela, no início da década de 1990.

A CP colocou autocarros alternativos ao serviço das populações, que circularam apenas durante cinco anos, segundo o movimento.

"A linha e o vale são mais que um património arquitectónico secular e ímpar, constituem um património natural e cultural de valor incalculável", alegam.

O transporte na linha do Tua, propriedade da REFER, é assegurado pelas carruagens do Metropolitano de Superfície de Mirandela ao serviço da CP.

O número de carruagens ficou reduzido a duas, depois de outras tantas terem ficado danificadas em dois dos acidentes.

Os passageiros demoram duas horas a fazer o percurso e são essencialmente habitantes das aldeias vizinhas da linha, mas, sobretudo no tempo quente, turistas que viajam para desfrutar da paisagem, que colocaram esta ferrovia entre as vias estreitas mais belas do mundo.

"Por todas estas razões, esperamos que seja finalmente discutida a questão do Tua com a seriedade e o respeito que merece, levantando assim o véu que tem encapelado todo este processo pouco claro e pouco ético", reclama o movimento.

Fonte: Lusa

0 comentários:

 
subir Free counter and web stats